quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Saulo Battesini - Scored Fractals [2010]

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Por Renato Glaessel
Publicado originalmente em 16 de junho de 2010 no Prog Brasil

E eis que em meio à mingua de lançamentos progressivos de bandas brasileiras, somos pegos de surpresa por Saulo Battesini e seu disco solo Scored Fractals. Que bela surpresa! 

Saulo Battesini capitaneou desde as composições, às quais ele dedica cada um dos diferentes momentos por ele vividos, bem como toda a gravação e produção do trabalho, sendo portanto um trabalho solo no mais literal sentido da palavra, evidentemente amparado pelos músicos supracitados. 

As duas primeiras faixas (Journey to Orien Planet e Lapse of Confusion) seguem uma linha mais fusion, com bons momentos de Saulo na guitarra, mas particularmente não apostaria muito nesse estilo, terreno já tão demarcado pelos virtuoses americanos e ingleses e sim na linha que o trabalho segue a partir da terceira faixa (Flying Dutchman) com seu início inspirado no barroco e passagens mais focadas na melodia e climas mais introspectivos, sem tanta aceleração rítmica, em uma linha mais sinfônico progressiva com muita variação de paisagens e retomadas com sons de cravo e flauta que ajudam a dar o clima. 

A faixa 4 (Tema 3) é mais acústica e aponta para algo mais reflexivo até mesmo depois da entrada da bateria, ambiente que mais ou menos tem prosseguimento na faixa seguinte ( Theme C) e seu belo dedilhado virtuoso ao violão intercalado com o piano e a bonita melodia executada pelo teclado. 

O disco segue com One Bit Over e sua levada um pouco mais groove com foco inicialmente nos solos de teclado e passando gradualmente à guitarra em um estilo que faz lembrar o Tribal Tech pelos timbres utilizados. 

A Little Moment to Rejoice encerra o álbum retomando um enfoque mais melodioso com as flautas e o piano embalados pela fluida melodia do teclado e violão. 

Resumindo, um lindo trabalho, produção caprichada e boa qualidade de gravação, grande estréia.

Macaco Bong - Artista Igual Pedreiro [2008]



Por Cleber Facchi
Publicado originalmente em 30 de março de 2011 no Miojo Indie

Se houvesse um disco capaz de definir todo o panorama da música instrumental brasileira na segunda metade dos anos 2000 esse sem dúvidas seria Artista Igual Pedreiro (2008). O trabalho de estreia do trio mato-grossense Macaco Bong soa como a obra máxima de um grupo de artistas veteranos, embora como dito, não passa do primeiro disco de estúdio de três rapazes, todos na casa dos 20 anos, mas com a experiência de mestres e a habilidade de empunhar seus instrumentos como gigantes.

Quando lançado, o debut parecia como uma grande constatação do óbvio. Boa parte das faixas já eram conhecidas do público, que tinham nos festivais pelo Brasil afora a possibilidade de serem presenteados com a sonoridade explosiva de Bruno Kayapy, Ynaiã Benthroldo e Ney Hugo. Entretanto, o “óbvio” não estava escondido no já conhecimento de algumas faixas, mas no fato de que ao estrear o grupo sem dúvidas proporcionaria um disco forte o suficiente para balançar qualquer estrutura. E é justamente isso que os três garotos fazem ao longo de 67 minutos.

Na ativa desde 2004 (quando ainda eram um quarteto) os mato-grossenses fazem com que quaisquer constatações que os aproximem de grupos como Mogwai, Slint ou demais pioneiros do post-rock sejam simplesmente incoerentes, afinal, tudo soa único, deles e sempre temperado com uma sonoridade puramente brasileira (mesmo sem se desmanchar em um arrasta-pé). Nos sete minutos de Amendoim, por exemplo, o trio mostra de fato a que veio, alterando o ritmo da faixa mais de três vezes, mandando uma pancada generalizada de som, fazendo com que o público dance de forma adestrada.
Mesmo sem entoar um único vocal (com “exceção” de Vamos dar Mais Uma), os títulos criativos das composições e o ritmo empolgado proposto pela banda fazem com que a qualquer momento você se pegue criando letras imaginárias, murmúrios que tentam acompanhar o ritmo, quase como uma tentativa de parecer um quarto membro do Macaco Bong. Embora não existam palavras falta ar para acompanhar o disco, tudo é muito direto, rápido e certeiro.

Há espaço para tudo dentro das extensas canções do álbum, menos para enchimento de linguiça. Muitos discos de musica instrumental acabam por vezes embrenhando em um terreno penoso e arrastado, como se fosse necessário que uma faixa tenha mais de oito minutos, mesmo que não haja entusiasmo para movimentá-la. Em Artista Igual Pedreiro isso não existe em nenhum momento. Tudo é exposto de maneira firme, objetiva e necessária, cada solo, acorde ou virada de bateria de Bananas For You All está ali, pois se faz necessário.

Eleito o melhor disco de 2008 pela revista Rolling Stone Brasil, a premiação é mais uma mera constatação de beleza desse trabalho. O registro acabou lançado de forma gratuita através do Álbum Virtual no site Trama Virtual, não encontrando barreiras para seu acesso e consequentemente ampliando o número de seguidores dessa obra, que pode ser encarada não como um costumeiro disco de música, mas praticamente uma celebração do rock instrumental.

domingo, 28 de outubro de 2012

Módulo 1000 - Não Fale Com Paredes [1972]


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Por Fernando Rosa
originalmente publicado na revista ShowBizz via  Brazilian Nuggets

O jornal Rolling Stone, em sua edição nacional, de número 4 (21 de janeiro de 1972) trazia na segunda capa (interna) anúncio de página inteira com o disco. Está lá escrito: "Nosso som é o som do mundo para ser sacado e curtido" - Módulo 1000, com a foto do quarteto e a capa do disco, trazendo apenas o nome da banda e da obra - "Não Fale Com Paredes". Uma estréia que prometia, mas que enfrentou resistências, mesmo dos setores mais roqueiros da mídia, inclusive do próprio RS.

A razão da reação adversa de alguns é, ao mesmo tempo, o grande trunfo do álbum: o som progressivo, altamente técnico, que, ao contrário das críticas, não deixava de manter o pé no rock e da psicodelia. Integravam o grupo carioca, os músicos Luiz Paulo (órgão, piano e vocal), Eduardo (baixo), Daniel (guitarra) e Candinho (bateria). A produção, devidamente capitalizada no anúncio do jornal, é do disc-jockey Ademir, um dos mais destacados da época, depois de Big Boy.

De fato, em suas nove músicas, "Não Fale Com Paredes" é um exercício de criatividade instrumental que, hoje, pode-se nivelar aos melhores discos do gênero produzidos no exterior. "Turpe Est Sine Crine Caput", cantada em latim, com um impressionante trabalho de guitarra, abre o disco mostrando o que vem pela frente. "Não Fale Com Paredes", com letra de Vitor Martins ("Uma pessoa/É uma figura/É uma imagem/Numa moldura/Minha imagem quer sair do quadro/Dessa vitrine sem profundidade"), em clima de quase hard-rock à la Grand Funk Railroad, expõe a face mais pesada do grupo. E "Espelho" é uma viagem acústica, com vocais suaves, que lembra um pouco a sonoridade dos Mutantes.

Um aviso na capa do lp reflete a preocupação do grupo com a qualidade de produção: "o tempo de duração de cada face do disco foi limitado a 16 minutos para proporcionar uma excelente reprodução sonora". Objetivo alcançado, pois ainda hoje causa surpresa aos novos ouvintes o resultado final do disco, gravado com as conhecidas condições técnicas nacionais de trinta anos atrás. E por jovens que tinham idade média de 20 anos.

"Não Fale Com Paredes" também é assíduo frequentador dos "want lists" (procurados) de colecionadores internacionais de discos raros de psicodelia e progressivo. Sua capa (em detalhe) está no livro "2000 Record Collector Dream", do austríaco Hans Pokora, e uma de suas músicas - "Lem-Ed-Êcalg (Glacê de Mel, ao contrário) integra a coletânea "Love, Peace & Poetry - Latin American Psychedelic Music", ao lado do também brasileiro Som Imaginário.

Mesmo assim, a sina de "Não Fale Com Paredes" parece ser permanecer no anonimato. Tanto que já é candidato a transformar-se em "disco perdido" também na era digital. Remasterizado, com capa original de papel e encarte com as letras, ganhou versão em cd, sem que ninguém tenha se dado conta. Originalmente gravado pela Top Tape, a reedição caprichada, limitada e provavelmente esgotada é da Zaher Zein/Projeto Luz Eterna.


A1 - Turpe Est Sine Crine Caput
A2 - Não Fale Com Paredes
A3 - Espêlho
A4 - Lem - Ed - Êcalg
B1 - Ôlho Por Ôlho, Dente Por Dente
B2 - Metrô Mental
B3 - Teclados
B4 - Salve-Se Quem Puder
B5 - Animália

Black Zé - Só Para Loucos.. Só Para Raros.. [1975]

Yandex 320kbps


Por Márcia Tunes

Este álbum além de ser uma jóia rarissima do rock nacional é também parte de minha adolescência, frequentava Petropolis nas férias do colégio e fins de semana e os meninos da banda também frequentavam a cidade e alguns até moraram lá, então não só conheci o trabalho da banda, mas fui amiga, fã, frequentava a casa do Inglês e do Thomas, era amiga do Peçanha (que namorava uma louca e grande amiga) e acompanhava os shows, tinha 17 anos. Bons tempos!!! 

Então é com muita emoção que faço o aplic, para os que não conhecem e até mesmo para os que puderam ter a chance de ver ao vivo e a cores ou mesmo ter o lp original, esta banda é muito especial pra mim. Altamente Recomendada!!!

Letra de Só para os loucos, só para os raros:

Colhendo cogumelos na varanda de cristal 
Avenidas paralelas, rua em forma de espiral 
Pisando sempre em flores num pedaço de universo 
Espinhos do destino fazem parte do meu verso 

Só para os loucos, só para os raros 

Confesso impressionado, nunca vi coisa igual 
O banheiro era um refugio, um lugar espiritual 
A estante era um bidê que continha livros raros 
O nautilus no teto, bem em cima do vaso

Formação (anos 70)
• Roberto Planta ( Peçanha) Vocal
• Inglês (Richard Brokaw) Guitarra
• Thomas (Thomas Brokaw) Baixo
• Conde Borromeu (Mauro Sant' anna) Batera
• Marcio (Marcio Aguinaga) Guitarra

Links quebrados

Como já explanado quase todos os links do blog foram deletados, mas isso não nos impedirá que continuarmos com essa bela diversão. Continuaremos as postagens de álbuns e afins.

Quando aos links quebrados, vamos "re-upalos" conforme o tempo disponível mas daremos prioridade aos pedidos de "reupagem", portanto deixem pedidos nos comentários da postagem que contém o objeto de desejo.

Precisamos de colaboradores, portanto que quiser contribuir deixem um cometário aqui no blog no na nossa página do facebook.

Sem mais, agradecemos a paciência.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mediafire ferrando com o blog


A caça as bruxas chegou a esse blog. Acabo de verificar que tiraram meus links do mediafire do ar.

Pensarei no que fazer nos próximos dias.

Sem mais palavras pois estou super chateado.

domingo, 21 de outubro de 2012

Mahtrak - Panorama [2009]



Por Claudio Fonzi

Formada em São Paulo em 2001, a banda Mahtrak segue uma mescla de jazz-rock e rock progressivo recheado de referências aos anos 70, fortemente influenciados por bandas seminais como Soft Machine, Return to Forever, Mahavishnu Orchestra, Jean Luc Ponty e Camel. Seu CD de estréia, intitulado "Panorama", tem recebido excelentes críticas e reviews pelo mundo e graças à sua ótima repercussão, a banda foi convidada a participar da coletânea "The Haiti Project", juntamente com artistas renomados do Progressivo mundial como Roine Stolt, Neal Morse e The Tangent, ajudando as vitimas das tragédias ocorridas naquele país.

Além do excelente repertório autoral presente em "Panorama", a banda prepara seu segundo disco do qual executarão músicas inéditas e trarão também surpresas ao palco, tocando músicas de grandes medalhões do estilo.

Sociedade da Grã-Ordem Kavernista - Sessão das 10 [1971]

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Por  Um Disco

Em 1971 chegou às lojas um disco diferente. Anárquico, cheio de vinhetas e com um senso de humor cáustico e crítico. Esculhambando televisão, classe média e o Brasil da novela. Os sambas que tem aqui são de uma natureza totalmente ímpar. Pelo tamanho que o Raul Seixas tomou poucos anos depois do lançamento deste LP em sua carreira solo e pela falta de resenhas circulando sobre este disco desde sempre, acabou ficando totalmente relegado à sombra. Muita gente fã de Raul não sabe deste disco.

Aqui se misturam samba, soul e rock, forró e jovem guarda. Tramado pelo então produtor de discos da CBS (filial brasileira da Columbia americana) Raul Seixas trazia os convidados Miriam Batucada, Edy Star e especialmente Sérgio Sampaio. Este capixaba que rende um postado só dele ao lado. As músicas são na maioria de Raul e Sérgio além de uma composição assinada por Antônio Carlos e Jocafi.

A primeira faixa abre com a primeira vinheta do disco: gritos de comemoração e música de circo anunciando o que viria: ” Respeitável público: a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista pede licença para vos apresentar o maior espetáculo da Terra”. E então começa ”Êta Vida” parceria de Sérgio e Raul em que os dois dividem os vocais. O ouvinte já direto é capturado pelo tipo de poesia da dupla: uma estrofe para cada um e o Rio de Janeiro de fundo.

Na seqüência mais uma vinheta e o samba-canção ”Sessão das 10” na voz e no vibrato de Edy Star que anos mais tarde lançaria um LP glitter bem interessante. ”Fala flautinha matadeira…”

Segue uma das vinhetas mais nonsense do disco. Sobre uma basezinha jovem-guarda a banda toca o tema que poderia ser ”Runaway” ou ”Diana” e as vozes de Sérgio e Raul conversando: ”Ih rapaz hoje eu vi meu ídolo da juventude / Essas coisas já não me assustam mais as laranjas continuam verdes e… / Ih cara peraí não complica eu disse que vi meu ídolo da juventude / É amigo assim os discos voadores nunca irão pousar”.

Vêm ”Botar pra Ferver” o solo de guitarrada e o refrão ”Eu vou botar pra ferver no carnaval que passou”. Sérgio começa já lá em cima ”Quero ver o sol fervendo / no salão entediado / quero ver as menininhas no salão desarrumado / quero ver gente cantando na salão entediado / muita gente se aprumando no salão entediado” a estrofe de Raul praticamente refaz a de Sérgio.

Eis que chega a 4a faixa e adentra a cena o personagem Jorginho Maneiro e sua hilária vinheta. Podes crer. Depois ”Eu Acho Graça” outro excelente momento do grande Sérgio Sampaio. A métrica usado de tô-que-tô e tiq-tiq-teco-tecos é demais! Uma das melhores do disco com certeza.

Vale aqui uma ressalva sobre as vinhetas. Elas – no vinil, claro – não vêm separadas das músicas. É realmente a introdução do tema. Por isso a gente na hora de ripar o disco deixamos elas de novo ligadas.

Miriam batucada canta duas músicas neste disco. Primeiro a faixa 5 ”Chorinho Inconsequente” e depois ”Soul Tabaroa”. Excelente cantora que era, Miriam manda legal e é um dos destaques do disco.

Depois temos ”Quero Ir” com seus triângulos e excelente momento do batera. Depois de ”Soul Tabaroa” vem a vinheta do programa Brasa Viva e um Raul de novo na de ator.

”Aos Trancos e Barrancos” é a música neste disco para mim. Raul começa num tom confessional haha: ”Taí eu sou um cara que subiu na vida/ Morava no morro e agora moro no Leblon”. E aí manda um samba que é das coisas mais finas já feitas no Brasil. é pena que como o resto do disco seja tão pouco conhecido. Graças a bem todo mundo sabe quem. ”Eu não vou levando nosso leite / Troquei por um bilhete da roleta federal/ Eu vou pela pista do aterro / E nem vejo meu enterro que vai passando no jornal / Rio de janeiro você não me dá tempo de pensar com tantas cores sobre este sol / Pra que pensar se eu tenho o que quero / Tenho a nêga o meu bolero / A tv e o futebol”.

Depois pra acabar a balada lisérgica ”Eu não quero dizer nada” e o rock hendrixiano ”Dr. Paxeco”

A turma termina tudo com ”Finale”: uma puxada literal na descarga. A única vinheta que ganha título no LP.

Faltam os créditos dos músicos que arrebentam. Especialmente o guitarra e o batera. Uma pena.

Cólera - Pela Paz Em Todo Mundo [1986]



Por Fred

Na capa amarelona com um mapa mundi estampado, a frase “Pela Paz em Todo Mundo” em seis idiomas. Esqueça o destroy pelo destroy dos Sex Pistols ou o amor adolescente dos Buzzcocks e das bandas emos da nova geração. Quando se fala em Cólera, fala-se naquele punk engajado e utópico no qual três acordes podem mudar o mundo e um disco pode ser uma pequena revolução. “Pela Paz em Todo Mundo” é um dos mais sérios candidatos a melhor disco do punk nacional. Tá, tudo bem, “Mais podres do que nunca” do Garotos Podres é um clássico, mas a qualidade da gravação é péssima, assim como de “Crucificados pelos Sistema” do Ratos. “Pela Paz” foi tão bem sucedido que vendeu cerca de 85 mil cópias, um recorde para um disco independente.

Em 1986, poucas bandas punk eram tão organizadas quanto o Cólera: eles já tinham gravado um disco(“Tente Mudar o Amanhã”, de 1984) e estavam prestes a ser a primeira banda da nossa cena a excursionar pela Europa (o que rolou em 1987). Formada em 1979, pelos irmãos Redson (Edson Lopes Pozzi, guitarra e vocais) e Pierre (Carlos Lopes Pozzi, bateria), o trio explosivo era completado por Val no baixo. Muito antes de todos holofotes apontarem para a questão ambiental aqueles garotos do subúrbio gritavam pela salvação da terra e do homem. A bolachinha vinha acompanhada da “Declaração Universal dos Direitos Humanos” e mais um manifesto surpreendentemente bem articulado chamado “Registro Arqueológico Sobre o Século XX”, que era como se alguém no futuro explicasse o mundo no qual aqueles moleques ralavam nos anos 80. Tínhamos acabado de sair da ditadura, a Guerra Fria ainda rolava solta, Rambo era um herói no cinema e Sarney se divertia brincando com a nossa inflação. Ninguém falava dos BRICS e “O Brasil é o país do futuro” era uma citação irônica numa música da Legião Urbana. Nesse cenário, parecia que o futuro era mesmo uma cena do apocalíptico “Blade Runner”. É ai que nossa audição começa.

“As vezes tenho medo/As vezes sinto minha mão/Presa pelo ar/E quando olho em volta/Encontro uma multidão/Presa pelo ar”. Síndrome do pânico? Ansiedade? Doenças do século XXI? Já estava lá, no primeiro clássico do disco, “Medo” (Que anos mais tarde seria regravada pelo Plebe Rude). A voz era um pouco desafinada, mas cheia de emoção. As letras não eram apenas críticas sociais ou clichês contra igreja, polícia e governo. Elas tinham um lirismo e alternavam momentos mais reflexivos como “Somos Vivos” e criativos como “Alternar” (na qual Redson reclama que precisa trabalhar, mas eles te obrigam a usar roupa social, gravata, sapato e cabelo “lau-lau”. Que jovem rebelde nunca ficou puto, por ter que ir pro trabalho todo engomadinho?). As críticas às instituições também estão lá nas pacifistas “Guerrear” e “Continência” ou na direta “Não Fome”.

Ao longo de “Pela Paz em Todo Mundo” você caminha pelas ruas esburacadas de São Paulo, pega o trem do subúrbio e presta o serviço militar, tudo ao som de uma bateria rápida, riffs grudentos de guitarra, um baixo ritmado e refrões empolgantes para serem cantados em coro. E o teor inflamável só aumenta nas duas últimas canções; primeiro “Adolescente”, que foge dos temas punks comuns e na sequência “Pela Paz”, talvez a melhor música do Cólera, um grito pacifista, cheio de fúria, que faz valer a frase destacada no encarte “Ser Pacifista é não fechar os olhos perante a violência”.

Pacifismo, ecologia, hinos da juventude e lirismo. Se Redson tivesse nascido em um país de primeiro mundo, talvez ele fosse um Bob Dylan. Fruto do nosso subúrbio operário ele só poderia cantar numa banda chamada Cólera. Ainda bem.

Veja também:

Cólera - Deixe A Terra Em Paz! [2004]
Três Acordes de Cólera (2005) Documentário

Lobão e Os Ronaldos - Ronaldo Foi Pra Guerra [1984]




Por Marcus Vinícius Beck

Não trata-se de um enorme sucesso comercial, mas sim de um disco ótimo, musicalmente, lembrando muito a new wave, que vinha sendo um sucesso no Reino Unido deste o final dos anos 70. Ronaldo foi pra guerra também foi uma critica ao então regime militar, no qual ele meio que obrigava você a escolher uma profissão muito cedo, chamado de tecnocracia. Me chama, feita para a sua namorada Alice Pink Punk, fora um sucesso nas rádios de todo o país,figurando entre as primeiras musicas mais tocadas dos anos 80.

Destaque vão para as musicas: Me chama, Ronaldo Foi Pra Guerra, Corações Psicodélicos, Bambino, Os Tipos Que Eu Nunca Fui (que acabou sendo a musica de trabalho do álbum, o que segundo Lobão foi um tremendo de um erro), Rio de Delírio.

Os Ronaldos eram:
Guto - guitarra e voz
Alice Pink Pank - teclados e voz
Odeid - baixo
Baster Barros - bateria

sábado, 20 de outubro de 2012

A Bolha - Um Passo a Frente [1973]

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Primeiro álbum d'A Bolha. Neste a banda buscou algo mais próximo ao progressivo. A formação da banda para esse disco foi:

Pedro Lima - Guitarra, Harmônicos, Vocal
Renato Ladeira - Órgão Hammond, Farfisa, Guitarra, Vocal
Gustavo Schroeter - Bateria, Vocal
Lincoln Bittencourt - Baixo, Vocal


Madame Saatan [2007]

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Por Fernão Silveira em Whiplash

O quarteto de Belém, formado por Sammliz (vocal), Edinho Guerreiro (guitarra), Ícaro Suzuki (baixo) e Ivan Vanzar (bateria), nasceu em 2003 e logo começou a se destacar em festivais de rock pelo Brasil afora. O primeiro registro oficial em CD foi possível graças ao pool de gravadoras independentes Ná Records (PA), Cubo Discos (MT), Fósforo Records (GO) e Fora do Eixo. E vale a pena a experiência.

O que se pode encontrar em "Madame Saatan" é um rock vigoroso, no qual a base instrumental de Guerreiro, Suzuki e Vanzar é verdadeiramente matadora. O hardcore, o thrash metal oitentista (principalmente) e algumas doses de nü metal são as influências mais claras que o quarteto demonstra ao longo das 10 faixas do álbum. Mas existe uma brasilidade inquestionável em todo o trabalho: pancadas como "Gotas em Caos de Selva Avenida" e "Cine Trash", por exemplo, remontam aos tempos áureos do experimentalismo do SEPULTURA (mas sem os vocais de Max!).

A frontwoman Sammliz também merece destaque. Letrista da banda, ela imprime suas digitais e demonstra criatividade nas composições. De cara, já acerta ao compor e cantar em português, mesmo que os riffs e introduções dêem ao ouvinte a certeza de que os versos vindouros serão pronunciados em inglês, por alguma voz gutural da Califórnia. E justamente este paradoxo (no bom sentido) é um dos grandes diferenciais da banda – algo que pode causar alguma estranheza nas primeiras audições, mas logo se torna um interessante atrativo à sonoridade do disco.

"Molotov", "Duo", "Ele Queima Ela Sorri" e "Messalina Blues", que poderiam ser classificadas como "nü-baladas", são quatro das músicas em que Sammliz parece mais bem enquadrada na moldura musical preparada pelos rapazes. Mas é em "Apocalipse", dotada de uma letra muito bem sacada e um cenário instrumental vigoroso, e em "Vela", temperada com saborosas pitadas de musica regional, que a banda se supera. Estas faixas são, de longe, as melhores demonstrações do potencial do quarteto.

Ainda além da qualidade do álbum, MADAME SAATAN traz uma brisa rejuvenescedora da cena independente que rola nos rincões do Brasil. É ótimo quando temos a oportunidade de encontrar bandas promissoras surgidas de fora do eixo Sul-Sudeste. A questão que fica é: será que a banda terá fôlego para manter seu peso e sua personalidade (que são seus principais diferenciais) diante de um possível flerte com o sucesso? Vale a pena esperar...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Longlife Rock Festival 2012 em Maringá/PR


Por Tacia Rocha 
Publicado em 15 de outubro de 2012 no odiario.com

A partir da próxima quarta (17), o festival de rock mais esperado inicia pré-venda de ingressos. O evento está em sua sexta edição e é o maior festival de rock do interior do Paraná. No dia que 1º de dezembro Maringá vai curtir um rock animal, no Parque de Exposições.

Os ingressos estarão à venda no MPB Bar e no site do evento. Para aqueles que compraremos ingressos nos pontos de venda terá direito a um kit exclusivo do Longlife composto por copo personalizado, um adesivo, uma dose de Bacardi, um CD promocional e um lixocar (quantidade limitada). Os ingressos custam R$ 150 para o camarote e pista e R$ 75. meia (estudantes e sócios do Clube do Assinante O Diário). Para os primeiros que adquirirem os ingressos promocionais (1º lote) pagarão apenas R$ 90. O valor do backstage não foi divulgado.


O Longlife Rock Festival promete abalar as estruturas. É esperado público de 10 mil pessoas, 7 grandes apresentações de nomes do rock nacional e internacional. Dentre elas, a banda gaúcha Nenhum de Nós, o cantor e compositor mineiro Zé Geraldo, além do quarteto carioca, Forfun, Dead Fish e Motorocker.



Vale ressaltar que a música não para. Serão mais de 6.000 m² de área coberta, 2 palcos principais, cuja troca entre as bandas não afetará na continuidade do show. Como de praxé, cada participante do festival doará 1kg de alimento não perecível, que serão distribuídos para instituições.


Nenhum de Nós - Acústico ao Vivo [1994]



Digam o que quiserem, mas os gaúchos do Nenhum de Nós saíram na frente nesta história de acústico. Até 1994, o formato era ignorado no Brasil e uma ou outra aventura neste sentido ainda trazia o rótulo anglo-saxão unplugged. À época, a banda deixou de lado as guitarras, arranjou as músicas para instrumentos ancestrais, postou-se em um teatro e lançou o bem-sucedido Acústico Ao Vivo. "É o que dizem os livros de história", diz o vocalista Thedy Corrêa ao Terra.

O Bando [1969]

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Por Lucas Rodrigues de Campos e André Mainardi
publicado no jornal Coletivo sÓ

No frenesi da Jovem Guarda, em 1965, Os Malucos - Diógenes Burani, (bateria), Paul de Castro, (guitarras e voz), Américo Issa, (guitarras e voz), Emilio Carrera, (órgão e piano), Rodolpho Grani,(baixo e voz) e Marisa Fossa, (voz principal) – apresentavam-se semanalmente nos lugares da moda, como o restaurante O Beco e a boate Urso Branco. Essa última casa recebia um evento patrocinado pela Coca Cola. Por intermédio do empresário Teo de Barros, (não confundir com o compositor), Os Malucos conseguiram lugar no evento ao lado de “Ronaldo Lark e os Versáteis”. O êxito na Urso Branco proporcionou uma excursão através da América do Sul e dois meses na Venezuela. Em Caracas, os garotos gravaram dezesseis programas de TV na principal emissora local, um deles acompanhando a atriz-cantora Sarita Montiel. “Chegando lá ficamos encantados com a salsa e outros ritmos locais. Ali pintou a idéia de colocar outro percussionista no grupo”, conta o baterista Diógenes.

Novamente em São Paulo, passaram a se chamar O Bando. O baterista Dudu Portes, amigo de Emilio, logo abandonou o programa televisivo O Fino da Bossa, apresentado por Jair Rodrigues e Elis Regina, para integrar a primeira banda brasileira com dois bateristas. O pioneirismo desses jovens músicos não parava aí: faziam um som bem arrojado dentro dos padrões psicodélicos, e, assim como os Beat Boys e Os Mutantes, eram sempre convocados a tomar parte no tropicalismo. Sob a égide e proteção de Solano Ribeiro, grande mentor da banda, conseguiram um contrato com Phillips do Brasil. André Midani apaixonou-se pelo som deles e, em busca de servir o mercado aberto pelos Mutantes, adicionou O Bando no cast da gravadora, colocando à inteira disposição deles os maestros Júlio Medaglia, Damiano Cozzela e Rogério Duprat. com a contemporaneidade do rock uniu a academia à tradição da garagem: “Não tinha pra ninguém... nós e Os Mutantes éramos os tais!”. 

Em 1969, bem à vontade, entraram no estúdio Scatena para registrar o primeiro disco do grupo. Trabalhar com os maestros possibilitou o acúmulo de grande conhecimento na área de arranjos e orquestração. Para Diógenes, os maestros assumiam o papel de intérpretes: “A gente bolava os arranjos e eles traduziam nossa linguagem de cabeludos doidos ao pessoal da gravadora”. Em oito canais gravaram um disco com apoio o esmerado dos regentes. Elaboradas partes de cordas e metais pintam em vivas cores, sob o signo tropicalista, músicas do cancioneiro popular como “Disparada” e “Quem Sabe”, composições do grupo, de Caetano Veloso e a primeira e definitiva versão de “Que Maravilha”, música de Jorge Ben, com a qual O Bando concorreu no Festival da TV Tupi, conquistando o primeiro lugar. 

Rio Grande

Muitas foram as incursões do Bando pelo sul do Brasil. Levados pelo Centro Acadêmico de Arquitetura da UFRGS, granjearam muitos fãns em Festivais nos Pampas. Nesse período conheceram os compositores Hermes Aquino e Laíz Marques. No Festival Universitário da Musica Popular Brasileira, em 1969, onde apresentaram-se Zé Rodrix, Danilo Caymmi e O Som Imaginário, O Bando defendeu “Pela Rua da Praia”, da dupla gaúcha Hermes e Laíz, e receberam um indesejado segundo lugar: “Só não vencemos porque éramos paulistas”. Com a agenda lotada, o Bando passou boa parte do ano de 69 viajando. No verão, arrendavam a boate Barbarela em Ubatuba, fazendo boa temporada e descansando. A “rotina era praia, ensaioe show”, lembrança de Diógenes. 

Além da vida de rocker californiano, o grupo fez aparições nos programas televisivos de Wilson Simonal e no Jovem Guarda, de Roberto Carlos. O grande mérito pós-disco veio com a participação na peça teatral O Plug, espetáculo multimídia, com representações de tipo teatral, filme underground, audiofotonovela com participação de Décio Pignatari, Duprat e Grupo OEL. Entre colunas romanas, versos e os mais absurdos happenings, o Bando mostrava todo o seu balanço. A pesada sessão rítmica retumbava tal qual uma barulhenta sinfonia de Beethoven ou Berlioz. Com suas câmeras desbundadas, Rogério Sganzerla registra tudo. Era o ano de 1972, já próximo do crepúsculo da banda. 

O fim do Bando foi uma conseqüência natural dos rumos musicais que cada integrante seguiu. A experiência com os maestros tropicalistas, produtores e empresários em uma época de franca expansão da indústria do disco no Brasil, proporcionou aos integrantes d’O Bando excelentes contatos profissionais, que acabou por direcioná-los para diversos caminhos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Casa das Máquinas - Lar das Maravilhas [1975]

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Estávamos em 1975, a repressão política e o subseqüente cerceamento do direito de expressão eram atos rotineiros e considerados legítimos pelos governantes, Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1979). Para quem não era nascido ou era muito pequeno, é muito difícil entender o quadro político e social daquela época.

Somente para exemplificar, não se podia ler aquilo que não fosse do interesse do “Poder” constituído. Eu mesmo, nesse período, somente conseguia ler alguns dos exemplares do periódico e alternativo Jornal Pasquim (que contava com uma equipe de respeito como: Paulo Francis, Tarso de Castro, Jaguar, Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil, Ferreira Gullar e muitos outros.), graças à astúcia do jornaleiro da esquina, que às vezes conseguia esconder um único exemplar antes da edição ser retirada de circulação. Fazia-se uma fila de espera para termos acesso aos raros exemplares “caçados”, que eram avidamente lidos, escondidos dentro da própria banca.

Cabelos longos eram sinônimos de maconheiro, marginal, bicha ou subversivo, verdadeiros inimigos internos. Uma simples e descuidada opinião em um bar, poderia ser o passaporte para um recolhimento involuntário e por vezes eterno no (DOI-CODI) Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna.

Bom, essa conversa toda, visa apenas mostrar como era difícil viver e criar naquela época, principalmente para as artes, fossem literárias, gráficas ou musicais.

Mas vamos ao que interessa. O Casa das Máquinas, com o seu 2º LP (Lar de Maravilhas) consolidou o conceito do que deveria ser o verdadeiro progressivo brasileiro. Na minha opinião, foi o melhor trabalho da banda e sem sombra de dúvida alguma, uma das melhores bandas de Rock Progressivo, senão a melhor, que o Brasil já teve.

“Já se pode sentir embora longe, os reflexos de uma revolução biológica, que vai se agigantando a cada momento que passa. A vida esta se modificando. A luz da transformação vem de todos os espaços, vem do infinito, onde máquinas e homens jamais conseguirão registrar ou ver, vem também do interior do próprio homem, onde Raio x de ciência alguma poderá revelar.” (B.J.Aroldo)

Acredito que o texto acima, retirado da capa interna do LP, seja suficiente para evidenciar o quão estava adiantada a mentalidade dos integrantes dessa fantástica banda. As excelentes letras, os primorosos arranjos e o flagrante virtuosismo dos músicos, são uma constante em todo o LP.

Lamentavelmente, provavelmente por pressão da gravadora (Som Livre) e a nova formação da banda, o Casa das Maquinas não deu continuidade à linha progressiva, dando maior ênfase ao Rock.




Ficha Técnica:

Luiz Franco Thomaz (Netinho) - Bateria, Percussão, Fala.
José Aroldo Binda (Aroldo) - Violão, Guitarra, Vocal.
Carlos Roberto Piazzoli (Pisca) - Guitarra, Guitarra 12 Cordas, Órgão Yamaha, Baixo, Violão.
Carlos da Silva (Carlos Geraldo) -  Baixo, Doble Baixo, Vocal.
Mario Testoni Jr. (Marinho): Hammond, Órgão Yamaha, Clavinet, Moog, Melotron, Piano De Cauda, Piano Fender.

Mario Franco Thomaz (Marinho) - Bateria, Percussão, Vocal.


Veja também:
Casa das Máquinas - Casa de Rock [1976]

domingo, 14 de outubro de 2012

Camisa de Vênus - Correndo Risco [1986]



Por Guilherme Mendes

Correndo o Risco foi o terceiro álbum de estúdio da banda brasileira Camisa de Vênus e o primeiro lançado pela WEA, em 1986. Este trabalho marca uma fase mais madura da banda, apresentando arranjos mais elaborados.

Foi o álbum mais vendido da banda e rendeu três compactos: Simca Chambord, Só o Fim e Deus me Dê Grana, todas possuindo videoclipes. O disco conta também com uma versão de Ouro de Tolo, cover de Raul Seixas, e com uma faixa inteiramente orquestrada chamada A Ferro e Fogo. Na época foi dito que esta canção daria o nome do trabalho, e somente não foi por causa de um álbum da banda de heavy metal Harppia, que lançou no mesmo ano um álbum com este nome.

Veja também:

Camisa de Vênus - Batalhões de Estranhos [1984]
Camisa de Vênus - Mais Vivo Do Que Nunca [2011]

Arthur Dapieve - Renato Russo, o Trovador Solitário [2000]



Por Érika dos Anjos

A história de Renato Russo se confunde com o nascimento (ou renascimento) do rock brasileiro nos anos 80; se confunde com a garotada de Brasília, que fazia música e queria um Brasil diferente; se confunde com os milhões de fãs que a Legião Urbana cativou durante sua, curta, jornada e que idolatram a figura criada pelo seu líder.

Neste livro, Arthur Dapieve mostra que é um dos melhores biografistas da atualidade (ao lado do onipresente Nelson Motta) e cria um ambiente íntimo e musical para se falar sobre difícil personalidade de Renato Manfredini Jr. Desde a infância dividida entre a Ilha do Governador e os Estados Unidos até a morte, no apartamento da Rua Nascimento Silva, em Ipanema. E, principalmente, passando pela adolescência em Brasília, onde houve a explosão criativa do rock nacional.

O grande lance deste livro é que ele é muito musical, cheio de referências aos ídolos de Renato, que ele fazia questão de citar em todos os seus diálogos. Referências estas que vão desde a música clássica, com Bach e Wagner (o preferido de Renato), ao Punk do Sex Pistols. Além disso, o autor não se aprofunda na questão da homossexualidade e da Aids que vitimou o cantor, e sim, exalta o talento e as letras perfeitas que RR deixou para a sociedade.

Para quem gosta de biografias e, principalmente, de rock and roll, é um prato cheio!

Ficha técnica:
Livro: Renato Russo, o Trovador Solitário
Autor: Arthur Dapieve
Editora: Relume Dumará
Nº de páginas: 188
ISBN: 8500020962

Sinopse: Renato estava se sentido desconfortável no papel de novo porta-voz da juventude, ainda mais porque tinha perfeita consciência da responsabilidade social de um artista. Até então não se sentia à vontade para tratar de um tema como identidade sexual, dada a enorme parcela de crianças entre seus fãs. “Sou jovem de vinte e poucos anos, não sei nada da vida”, reclamava. “As pessoas bebem minhas palavras como água. E escrevo justamente poruqe não sei. Não quero que minha opinião sobre temas controvertidos, drogas, por exemplo, influencie outra pessoa.”

Plebe Rude - O Concreto Já Rachou [1985]



Brasília, capital da esperança. Brasília dos camelos, dos blocos e quadras, das zebrinhas e tesourinhas. Brasília, o eterno “autorama gigante”. Brasília das siglas. Brasília sem ruas, mas com esquinas. Brasília, fruto do traço do arquiteto. Brasília da seca e dos finais de tarde cinematográficos. Brasília dos centros comerciais, dos muitos porteiros e das pessoas normais.

A capital federal entrou para o mapa da música brasileira na década de oitenta, em meio à onda do rock brasileiro. Após o estouro das bandas do Rio de Janeiro e de São Paulo, foi a vez de Brasília apresentar-se ao mundo. Três bandas da cidade capitanearam o movimento: Legião Urbana (a mais cultuada), Capital Inicial (ainda em atividade) e Plebe Rube, a Suprema Trindade do rock candango. Todas as três formadas por uma garotada que sentia muito tédio na capital, mas era extremamente bem informado sobre música pop – em especial punk, pós-punk e new wave norteamericanos e britânicos.

A Plebe foi criada no início dos anos oitenta. Em sua formação original – eu chamaria de “clássica” – a banda tinha Phillippe Seabra (guitarra), Jander Bilaphra (guitarra), André X. (baixo) e Gutje (bateria). Foram esses quatro garotos que realizaram um dos discos seminais do rock nacional, O concreto já rachou.

Produzido por Herbert Vianna, O concreto... foi lançado em 1985, em pleno início da redemocratização do país. Trata-se, na verdade, de um mini-LP (sete canções em pouco mais de vinte minutos), algo pouco comum para o mercado brasileiro. A experiência deu certo, porém. Mais de duzentas mil cópias foram vendidas entre 1985 e 1986.

A primeira canção é “Até quando esperar”, hino de várias gerações. A música, um petardo, é um libelo contra as desigualdades econômicas e sociais e não perdeu a atualidade, mais de 25 anos depois de seu lançamento. “Até quando...” foi o carro-chefe do disco, tocou do Oiapoque a Chuí e colocou os meninos no miolo da cena musical brasileira, com direito aos Fantásticos e Faustões (que não existia àquela época) da vida. A seguir, “Proteção”, outra porrada de pouco mais de dois minutos. “Tropas de choque, PMs armados/mantém o povo no seu lugar”. Ecos de The Clash e Gang of four no cerrado.

A obra tem ainda as dispensáveis “Johnny vai à guerra” e “Seu jogo” e as fabulosas “Sexo e karatê” (acelerada em estilo ramoniano) e “Minha renda” (com a antológica frase “vou mudar meu nome para Herbert Vianna”). A última canção, porém, fecha o disco com chave de ouro.

“Brasília”, a música, sintetiza a vida na capital. “Brasília tem luz, Brasília tem carros/Asas e eixos do Brasil/Servidores públicos ali”. Duas guitarras toscas dialogam ao longo dos pouco mais de três minutos da canção. Para quem mora na cidade basta fechar os olhos e sentir-se em meio ao ambiente único do local.

Depois, veio a quase inevitável decadência. O álbum seguinte, Nunca fomos tão brasileiros, de 1987, pecou por certa grandiloqüência que não combinava com o punk dos rapazes. A Plebe ainda está em circulação, com nova formação (Clemente, ex-Inocentes, e Txotxa na bateria) mas com o velho pique.

Brasília, por sua vez, segue na velha rotina de muitos porteiros e pessoas normais.

Um rápido PS: a quem interessar possa, o livro O diário da turma 1976/1986 – a história do rock de Brasília, de Paulo Marchetti, conta em detalhes a história da Plebe & companhia.

Veja Também:

Plebe Rude - Rachando Concreto Ao Vivo [2011]

sábado, 13 de outubro de 2012

O Terço - Casa Encantada [1976]



Segundo e último álbum com Flávio Venturini. Mantém o mesmo nível do trabalho anterior (Criaturas da Noite), porém a banda não apresenta nenhuma suíte neste disco. Em contrapartida, a temática das letras mostra-se mais densa, como nas faixas Sentinela do Abismo, Cabala, Flor de la Noche, esta com vocais bem líricos em espanhol muito bem pronunciado, e Vôo da Fênix. A instrumental Solaris traz a mesma força contida em "Ponto Final" do disco anterior, só que numa seqüência mais breve e dinâmica e uma linha de baixo avassaladora. Ambas são composições do baterista Luiz Moreno. Flávio Venturini e Sérgio Magrão sairiam fortalecidos daqui para formarem a próxima super banda: o 14 Bis, que adotaria a fórmula Terço para os anos 80, acrescida de elementos da música pop nacional. Atenção para esta outra faixa instrumental: "Guitarras"- fantástico arranjo e sincronia dos instrumentos em sua introdução, que vai culminar em batidas de percussão e seguir magistralmente num ritmo dinâmico com direito a riffs de guitarra e vários efeitos vocais em tom de histeria, tendo seu encerramento no mais alto estilo progressivo. É de tirar o fôlego! Genial! "Luz de Vela" tem levemente ecos da jovem guarda. A nostálgica faixa-título, que se introduz por uma suave e agradável melodia, e "Foi quando eu vi aquela lua passar", são as que mais mostram o lirismo e o talento de Flávio Venturini como compositor e melodista. O álbum fecha com outra canção bem nostálgica: a acústica "Pássaro", o lado MPB e regionalista do álbum, com belíssimos arranjos de violões e acordeão. Altamente recomendável!

Formação que gravou esse álbum:
Sérgio Hinds - guitarras e vocais
Flávio Venturini - teclados, piano, violões e vocais
Sérgio Magrão - baixo e vocais
Luiz Moreno - bateria e percussão.


Veja também:
O Terço - Som Mais Puro [1982]
O Terço - Criaturas da Noite [1975]
O Têrço - O Têrço [1970]
O Terço - O Terço [1973]

Raimundos [1994]

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Até a chegada do primeiro registro em estúdio da banda brasiliense Raimundos, a música brasileira ainda vivia daquilo que fora produzido na década de 1980, algo que foi bruscamente rompido quando os primeiros acordes de Puteiro em João Pessoa são ecoados através do raivoso debut. Trazendo a produção de Carlos Eduardo Miranda, o disco transparece muito do que tomaria a música nacional a partir daquele momento: o cruzamento de ritmos. Se por um lado era o peso do punk rock e a energia do hardcore que davam a condução necessária para o álbum se movimentar, por outro lado eram elementos vindos da cultura nordestina, como o Forró, que davam distinção ao som da banda, na época formada por Digão (guitarra), Canisso (baixo), Fred (bateria) e Rodolfo Abrantes (voz). Trazendo algumas das criações mais memoráveis do grupo – como Nega Jurema e Minha Cunhada -, o disco é o início de uma das carreiras mais bem sucedidas do rock nacional, um trabalho que seria copiado por um sem número de bandas que ainda estavam por nascer.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Raul Seixas - Novo Aeon [1975]


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Mais um álbum de Raul Seixas, Novo Aeon foi lançando originalmente em 1975, este foi mais um trabalho fruto da parceria com Paulo Coelho, veio logo após "Gita", talvez por isso não tem obtido o mesmo sucesso na época. O disco é uma paulada de sucessos, nele encontram-se canções, que com o tempo se tornaram clássicas, como "Tente outra vez", "Tu es o MDC da minha vida", "A maçã" e "Eu sou egoísta".

O disco canta à sociedade alternativa é recheado de canções que falam de liberdade, de quebra das amarras impostas pela sociedade, sempre da forma única exposta pelo cantor. Aliás as criticas sociais também estão presentes de forma até cômica em algumas músicas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Som Imaginário [1971]

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que você apostaria numa banda psicodélica formada por membros do grupo que acompanhava Milton Nascimento no fim dos anos 60? Pode apostar alto: os três únicos discos lançados pelo Som Imaginário (cujos músicos também acompanharam Lô Borges, Beto Guedes, Erasmo Carlos, Gonzaguinha e outros) são good trips garantidas. O primeiro, em especial, trazia um som mais pop, que misturava Beatles, psicodelia, rock progressivo, hippismo explícito e praticamente nada de MPB - destacando a criatividade de Frederyko, um dos melhores e menos reconhecidos guitarristas do Brasil, hoje sumido da mídia. 

A formação que gravou Som Imaginário foi surgindo aos poucos, no fim dos anos 60. Wagner Tiso, que acompanhava Milton Nascimento desde o início de carreira (chegaram a montar, na adolescência, um conjunto de jazz chamado W Boys, graças à predominância na banda de rapazes com a inicial W no nome - Milton, que era o baixista, chegou a trocar seu nome para Wilton) se juntou a alguns músicos que tocavam com ele na noite carioca, como o baterista Robertinho Silva e o baixista Luiz Alves, e acabaram formando uma banda para tocar com o cantor mineiro. Antes disso, boa parte da formação do Som Imaginário podia ser encontrada no grupo de bailes Impacto 8, que tinha, entre outros, Robertinho e Frederyko. A banda não deu muito certo - Raul de Souza, trombonista e, em tese, líder do Impacto 8, desistiu do grupo após um show num Clube Militar em que todos os músicos simplesmente "esqueceram" de animar o baile para improvisar, solar e soltar os bichos no palco. 

Já contando com Wagner Tiso, Luiz Alves e Robertinho Silva, o Som Imaginário logo admitiria Frederyko, o percussionista Laudir de Oliveira (que não ficaria na banda) e mais uma dupla de compositores que também se destacaria no álbum de estréia: Zé Rodrix (órgão) e Tavito (guitarra-base e violão de 12 cordas). O grupo gravaria o LP de 1970 de Milton Nascimento e logo entraria em estúdio para registrar Som Imaginário, um dos mais interessantes lançamentos da música psicodélica brasileira. O disco tinha muito menos influências de MPB do que o pedigree dos músicos poderia fazer supor - mas havia a presença de Milton, fazendo alguns vocais (não creditados) e cedendo o instrumental prog mineiro "Tema dos deuses", sem contar a latinidade que aparecia em algumas canções assinadas por Zé Rodrix, como a ruidosa "Morse" e a doidaralhaça "Super-God", com sua letra psicodélica e contra-cultural. Todas as faixas eram preenchidas pela fuzz-guitar de Frederyko, que ainda contribuiu com dois dos momentos mais hippies do disco, a bela "Sábado" (gravada nos anos 80 pelo - veja só - Roupa Nova) e a balada anarquista "Nepal", gravada em clima de zoação no estúdio. 

O maior sucesso do disco acabou sendo "Feira moderna", parceria de Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant, gravada pela banda numa versão crua, cheia de riffs de órgão - é aquela mesma música que você conhece da versão de Beto Guedes no disco Amor de índio, de 1978 (e regravada também pelos Paralamas do Sucesso nos anos 90). Zé Rodrix, que praticamente liderava o grupo no disco e fazia quase todos os vocais, prosseguia sua viagem pop e lisérgica em faixas como "Make believe waltz" (mesclando valsa, rock e country), a agressiva "Hey man" (espalhando brasa para a Copa de 70 e a ditadura nos versos: "você precisava da taça de ouro/você precisava beber nessa taça/que você pagou com o sangue que nela derreteu.../só que nesse instante você foi feliz/você é feliz quando deixam") e o hino psicodélico "Poison", com letra lembrando Timothy Leary e os Beatles de "Tomorrow never knows" ("I always get the poison that I need to be alive, to see and sing/so poison me to get my mind way out/my mind way in"). 

Formado por músicos bastante requisitados - até hoje, aliás - o Som Imaginário se dividia entre a banda e vários trabalhos para outros artistas. Com o tempo o grupo foi perdendo integrantes. Zé Rodrix logo sairia da banda para se juntar a Sá & Guarabyra e gravar dois discos não menos clássicos, além do solo 1º acto, de 1973 (também pela Odeon). O segundo disco do Som Imaginário (1971), também homônimo, trazia Frederyko na liderança, compondo uma série de faixas anárquicas (como "Cenouras" e a engraçada "Salvação pela macrobiótica"), além do tema "A nova estrela", dele e de Wagner Tiso. E é a sonoridade de Wagner que domina Matança do porco, disco de 1972 da banda, mais chegado ao estilo que marcaria os trabalhos solo do tecladista. Com três discos bastante diferentes uns dos outros - Milagre dos peixes ao vivo, disco de Milton Nascimento lançado em 1975, pode ser considerado o quarto LP do grupo, por ter sido creditado a eles e ao cantor - o Som Imaginário chegou a um resultado que não permitia comparações com praticamente nenhuma banda nacional ou internacional. Pena que tenha durado tão pouco.

Veja também:
Som Imaginário - Som Imaginário [1970]

Tomada - Inevitável [2011]



Por Fabio Melo

Uma coisa que sem­pre me deixa bas­tante cha­te­ado são as ban­das “sau­do­sis­tas”, que ten­tam revi­si­tar aquela sono­ri­dade de trinta anos trás e sim­ples­mente tra­zem a mal­di­ção do “mais do mesmo”. Tanto que den­tro do meio do rock o que mais se tem feito são ten­ta­ti­vas de res­gate que cul­mi­nam em tra­ba­lhos de gosto duvi­doso. Con­tudo, o grupo Tomada faz isto tudo e ainda sim soa como uma banda original.

É ine­gá­vel que o disco “O Ine­vi­tá­vel” seja uma obra prima do rock naci­o­nal. Direto, sem flo­reios e com letras em por­tu­guês, o grupo con­se­gue trans­mi­tir toda aquela força e garra do rock’n’roll clás­sico sem dei­xar de soar moderno. Não espere melo­dias com­ple­xas, fler­tes com outras sono­ri­da­des ou mesmo letras filo­só­fi­cas: o disco traz aquilo que falta no rock, que é a música des­com­pro­mis­sada, diver­tida, para ouvir e relaxar.

Blues, psi­co­dé­lico, rock’n’roll e mui­tos esti­los “pró­xi­mos” apa­re­cem nas músi­cas deste álbum. Sem gelo, puros ou mis­tu­ra­dos, não importa, mas sim que isto con­fere certa ori­gi­na­li­dade ao grupo pela forma coesa com que este tra­ba­lho se mos­tra. Con­fesso que a pri­meira vez que ouvi a banda fiquei impres­si­o­nado. As letras são daque­las que dão von­tade e can­tar o refrão, de tão gru­den­tas e tão melo­di­o­sas que são.

A música “Ela não tem medo” pos­sui um lado meio psi­co­dé­lico e uma iro­nia muito grande na forma como é can­tada. “Cata­rina” tem um lado blues/rock muito bonito, quase como aque­las pri­mei­ras ban­das que saí­ram de um blues para aden­trar no rock. “Estou em órbita” é uma balada pesada, com letras mais amo­ro­sas, de uma tra­di­ção das ban­das clás­si­cas de rock. Em “Luzes” o rock se torna mais con­ta­gi­ante, sendo a mes­cla per­feita entre o rock mais moderno com o mais tra­di­ci­o­nal, com par­tes de gui­tarra que reme­tem ao psi­co­dé­lico. É exce­lente como música de tra­ba­lho, é impac­tante na medida certa.

O disco é um ama­du­re­ci­mento ao tra­ba­lho desen­vol­vido desde o sur­gi­mento do grupo, em 2000. Res­gata algo que faz falta hoje, que são os gru­pos com música sim­ples, direta, diver­tida e, acima de tudo, para ser escu­tada na rádio ou no carro. É aquilo que merece ser ouvido e reou­vido quan­tas vezes puderem.

The Bubbles - Raw and Unreleased [2010]

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Por Nélio Rodrigues
publicado no encarte do disco

Enquanto a bossa nova ainda dava as cartas no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, a uns poucos quarterões dali quatro garotos entre os 13 e os 16 anos estavam mais atentos aos sons que vinham de longe, através do Oceano Atlântico. Eles usavam ternos pretos, adesivavam seus instrumentos e gritavam seus yeah, yeah, yeahs seguindo a aparência e o estilo de seus ídolos: Os Beatles. E como fizeram John, Paul George e Ringo, eles também escolheram um nome curto, e orgulhosamente se auto-intitularam The Bubbles.

Foi em 1965 que os irmão Ladeira, César e Renato (guitarras solo e rítmica, respectivamente) e seus amigos Lincoln Bittencourt (baixo) e Ricardo Roriz (bateria) começaram a tocar. Inicialmente nas festas dadas pelos seus amigos e em pequenos eventos das escolas.

Em 1966, com um pouco mais de experiência nas costas, eles começaram a tocar nos clubes onde os jovens se reuniam nos finais de semana para ver, ouvir e dançar ao som de suas bandas favoritas. The Bubbles rapidamente se tornou uma dessas, especialmente por conta de suas apresentações animadas e do repertório formado por músicas dos Beatles, The Animals, The Hollies, Gerry & Pacemakers e Dave Clark Five, entre outros.

Foi um ano agitado, com a banda aparecendo frequentemente em programas de TV e gravando um single pelo selo Musidisc. O disco chegou às lojas no final de 1966, apresentando versões em português para "Get Off of My Cloud", dos Stones ("Por que Sou tão Feio") e para "Break it All", dos Shakers ("Não Vou Cortar o Cabelo").

Junto com essas covers, em agosto de 1966, o The Bubbles grava mais três músicas. Mas apenas uma é devidamente finalizada. "Trabalhar", uma versão para "For Your Love", dos Yardbirds, quase se perdeu nos arquivos da gravadora, já que nenhum dos membros da banda se lembrava de tê-la gravado.

Apesar do single não atrair muita atenção, a carreira do The Bubbles continuava de vento em popa, com mais e mais performances na TV e nos clubes espalhados pela cidade. Mas, apesar das coisas estarem indo muito bem, a banda, liderada por César, decidiu trocar de baterista. Eles convidaram outro Ricardo, Ricardo Reis, para substituir Roriz.

Em 1967, logo após a estreia do seu nova baterista, o The Bubbles parte para uma viagem aos Estados Unidos. Eles trouxeram novos equipamentos que causavam inveja aos seus rivais. Foi por volta dessa época que a banda virou uma das atrações fixas do recém inaugurado Canecão, até hoje uma das casas de show mais importantes do Rio. Os Herman's Hermits tocaram lá em novembro daquele ano e o The Bubbles foi, claro, uma das bandas de abertura de seus shows.

No começo de 1968, os rapazes participaram das sessões de gravação do segundo LP de Márcio Greyck. E eles ficaram impressionados com o estúdio da Philips, maior e mais moderno do que o da Musidisc. Mas a chance de gravar novamente lá veio apenas no final daquele ano, quando a Philips os convidou para gravar "Ob-La-Di, Ob-La-Da" e "Honey Pie", duas músicas do recém-lançado "White Album", dos Beatles, que a gravadora queria lançar como um single. Contudo, apesar do The Bubbles ter feito versões dignas das duas músicas, a Philips acabou não as aprovando e ambas permaneceram não engavetadas por todos estes anos.

No final de 1968, César deixa a banda, o que inicia uma série de mudanças, tanto no som quanto na formação do The Bubbles. A primeira foi a sua substituição por Pedro Lima, um excelente gutarrista que veio dos Goofies, uma banda que contava ainda com Dadi, futuro baixista dos Novos Baianos. Pedrinho trouxe com ele o interesse pelo blues e um som mais pesado, inspirado por Cream e Jimi Hendrix, mudando o foco para os instrumentos e sua potência, e não mais nos vocais, que eram a marca registrada da banda até então.

Esta mudança também levou Lincoln a deixar a banda, seguido pelo baterista Ricardo Reis em menos de um mês. Lincoln foi substituído por Arnaldo Brandão, que havia tocado com o Easy Going Five, o Another Dimension e os Divers. E Reis por Johnny Telles.

O renovado quarteto começou 1969 a todo vapor. Ao lado da tradicional coerência, segurança e precisão, suas performances agora tinham grande volume e complexidade sonora. "Nós tocávamos alto, muito alto", diz Arnaldo, que na época exibia um baixo Vox Teardrop, "como o de Bill Wyman", acrescenta.

Conhecidos como o melhor conjunto da cidade, em 1969 a aclamada banda tocava em quase todos os clubes do Rio e das cidades vizinhas. Algumas vezes eles dividiam o palco com seus maiores rivais, os Analfabitles, ou os celebrados Mutantes, que então estavam radicados no Rio. Ou até mesmo com Sérgio Mendes & Brasil 66, como em 8 de junho de 1969, em um evento no Clube Monte Líbano.

Ainda em 1969, o The Bubbles participou do filme "Salário Mínimo". Rodado nos estúdios da Cinédia, em Jacarepaguá, dirigido por Adhemar Gonzaga e contando com o ex-membro da banda César Ladeira como assistente de direção, o filme foi lançado em 1970, tendo como atração principal as três músicas originalmente escritas e gravadas pela banda para a trilha sonora do filme. No filme, pode-se ver Renato, Arnaldo, Pedro e Johnny tocando uma delas, "The Space Flying Horse and Me". As outras duas eram "Get out of My Land" e "Flying on My Rainbow", essa última utilizada como música de abertura do filme.

É uma pena, mas as fitas contendo as gravações originais destas músicas não puderam ser encontradas e as gravações de "Get out of My Land" e "The Space Flying Horse and Me" incluídas nesta compilação foram obtidas a partir de uma cópia em VHS do filme.

Enquanto isso, 1970 terminou da mesma forma que o ano anterior, com a saída de Johnny. Pressionado pelos seus pais, o jovem baterista foi obrigado a voltar para os estudos, o que significava que o seu posto na banda, que era ocupado com segurança e precisão, precisava ser preenchido. Foi um golpe de sorte para o baterista dos Cougars, Gustavo Schroeter, que sonhava em tocar com o The Bubbles. Quando ele ouviu a voz de Renato ao telefone, ele soube imediatamente que seria o substituto de Johnny.

Apesar disso, o ano começou muito bem, com um convite de Jards Macalé, então diretor musical de Gal Costa, que era impossível para o The Bubbles recusar: participar dos shows de Gal como banda de apoio. A aproximação deles foi um sucesso. Dos muitos shows que eles fizeram juntos, o da boate Sucata, na Lagoa carioca, foi particularmente marcante.

Ainda com Gal, mas sem Renato, que não podia viajar, eles foram para Lisboa, onde apareceram em vários programas de TV. De lá eles rumaram para Londres, onde se juntaram a Gil e Caetano para tocar no festival da Ilha de Wight. Convidados de última hora pelos produtores do evento, eles usaram uma das músicas mais conhecidas de Gil, "Aquele Abraço", como o início de uma longa jam.

A experiência que a banda compartilhou com Gal, Caetano e Gil foi crucial para os caminhos que o The Bubbles seguiria. Influenciados por eles, Arnaldo, Pedrinho e Gustavo retornam ao Brasil convencidos que já era hora da banda se transformar completamente. Renato concordou com a decisão e então eles colocaram o The Bubbles de lado e deram vida e um novo conceito musical, focado em material próprio, que eles chamaram de A Bolha. Mas aí é uma história para ser contada em um outro momento.