quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Augustine Azul - Lombramorfose [2016]

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Por Guilherme Espir em La Parola


Vencer no cenário underground é o que diferencia os “homens” dos “meninos”.

Turnês na lombra de uma van, atravessando os estados a torto e a direito, significam noites mal dormidas para ganhar tempo no velocímetro. Perrengues de praxe com o carro, pouca verba para laricar… Esses são apenas alguns dos problemas enfrentados por quem almeja chegar e conquistar o grande público.

E é justamente desse cenário instável que surge, na cáustica João Pessoa, uma das bandas mais coesas, ainda que não tão conhecida, do cenário instrumental nacional: a Augustine Azul. Trio Progressivo bem grooveado na psicodelia, formado em 2014 pelos músicos locais: João Yor (guitarra), Jonathan Beltrão (baixo) e Edgard Júnior (bateria).

Lombramorfose foi gravado e produzido pelo próprio trio, no Estúdio Peixe Boi, tradicional espaço da cena Paraibana. O sucessor do primeiro EP homônimo da banda lançado em 2015, não só chega sustentando a química kamikaze do trabalho anterior, como ainda eleva o padrão técnico das composições e ganha projeção mundial com o apoio da More Fuzz Records – selo da More Fuzz, talvez o site mais conceituado quando o assunto é a cena gringa de Stoner-Sludge.

É como o João Yor (guitarra) explica:

“As composições foram tomando forma naturalmente, basicamente no mesmo processo em que estávamos compondo na época do EP, a maior diferença desses dois materiais foi o tempo disponível que a gente tinha e a qualidade dos recursos”. 

Com uma estrutura bem montada, composições com espaço para mais experimentos e improvisações, doses de Hard, Funk e Blues embebidos em timbragens Stoner, a Augustine Azul promove uma mescla de sons cheia de sentimento, versatilidade e criatividade, resultado difícil de alcançar, mas que após escutarmos o disco, parece fácil e óbvio.

domingo, 10 de setembro de 2017

Bike - Em Busca da Viagem Eterna [2017]

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Por Alejandro Mercado em A Escotilha


A BIKE retorna com seu segundo álbum, Em Busca da Viagem Eterna, oferecendo ao ouvinte um passeio onírico, um mergulho profundo e arraigado na psicodelia contemporânea brasileira. Bebendo em fontes tão plurais quanto a musicalidade permite, o grupo despeja riffs de forma quase celestial, optando por fazer uma experimentação menos enérgica e selvagem do rock psicodélico, mas, ainda assim, com uma estética sonora fortemente ligada ao imaginário do ritmo, que possui uma roupagem muito particular em terras brasileiras.

Lançando mão de músicas menos cruas ou caóticas e unindo com perfeição distorções e reverb, a BIKE impressiona com suas composições ricas que fogem ao exagero do virtuosismo, compondo faixas em que as texturas se entrelaçam e hipnotizam, acentuando a junção ímpar das harmonias vocais, linhas de baixo com grooves proeminentes e uma bateria certeira.

Faixas como “Enigma dos Doze Sapos”, que abre o álbum, e “A Montanha Sagrada” se transformam rapidamente em interpretações sonoras de um contato lisérgico com lugares mais interessantes que nossa realidade. Há tons épicos nesta segunda, que utiliza a narrativa musical como espécie de transe no ouvinte.

Um dos pontos mais curiosos e característicos deste novo disco é como ele é mais expansivo que o anterior, mesmo que essa expansividade se expresse através de arranjos mais sutis, sensíveis e sensuais. A banda, que participou do projeto Psicorixádelia produzido por A Escotilha, cria uma bagunça de sons que vão, a cada nova canção, desconstruindo e reconstruindo nossas impressões sobre o que seja essa nova cena psicodélica no Brasil. Trata-se menos de ser inovador e mais de ser imensuravelmente sensitivo.

Toda a força que o grupo já havia demonstrado em 1943 é amplificada com Em Busca da Viagem Eterna, um disco muito mais seguro e redondo que o anterior, e de tanta qualidade quanto. Se a eternidade era o resultado da viagem que a banda faz no álbum, ela tem sucesso sem sombra de dúvida, encadeando composições sonhadoras o bastante para serem a perfeita definição da proposta musical (e, obviamente, estética) dos integrantes.

Com tamanho talento, não é difícil entender o porquê o quarteto paulista, formado por Rafa Buletto, Daniel Fumegaladrão, Julito Cavalcante e Diego Xavier, atravessou o oceano para shows no exterior. Com tamanho talento e potencia, seria egoísmo guardar apenas para nós.